quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Recuperação da casa de Verdemilho que pertenceu ao avô de Eça de Queiroz


Lisboa 6 de Agosto de 2007
Ex.mo Senhor dr. Élio Maia
Presidente da Câmara Municipal de Aveiro
É na dupla qualidade de queirozianista e de arquitecto que mais uma vez me dirijo ao Município de Aveiro no sentido de contribuir para a recuperação da fachada da casa que pertenceu ao avô de Eça de Queiroz, em Verdemilho, na qual o escritor passou os primeiros anos da sua vida, até à ida para o Porto para o Colégio da Lapa.
Seria absolutamente impensável em qualquer país civilizado da Europa, como V. Ex.cia sabe, uma situação tão confrangedora como é o estado actual dessa fachada. Decerto que todos sabemos também que o Município está endividado, pelo campo de futebol, etc. etc.A verdade é que havendo vontade de se empreender qualquer coisa, o que até esta data não se tem verificado, a obtenção de dinheiro para realizar este projecto seria o menor dos obstáculos. O que é necessário é começar por fazer um dossier documentado com fotografias, incluindo um projecto e um faseamento, acompanhados de uma estimativa orçamental. Essa estimativa conteria o custo de aquisição do terreno. Com esse documento seria fácil avançar para um pedido de comparticipação da Gulbenkian (onde Eça goza de uma grande empatia) e implicar também o Ministério da Cultura, gerido por uma queirozianista, a drª Isabel Pires de Lima. Este último organismo, de posse do dossier, poderia estudar o processo legal de expropriação do terreno por utilidade pública, de modo a habilitar o Município a adquiri-lo. Alguns bancos poderiam ser também facilmente mobilizados para o efeito de comparticipação orçamental. Tudo isto é praticável e simples e o Município tem todos os meios indispensáveis para elaborar este dossier.A primeira questão a resolver é a posse do terreno pelo Município. Para a recuperação em vista, a ideia que me parece a mais simples e viável seria reconstruir a fachada, demolindo o andar espúrio que a desfigura e montar o brasão de armas que se encontra no Museu de Aveiro. Esta seria a 1ª fase dos trabalhos, obra muito simples e relativamente barata, que constituiria o essencial da recuperação. A fachada, depois de todo o resto demolido, ficaria, é claro, com os vãos abertos, como expressão de uma «fachada-memória». Mais tarde poderia pensar-se em fazer em anexo, mas separadamente da fachada, uma construção discreta em terraço, capaz de abrigar uma exposição permanente relativa a Eça de Queiroz e exposições temporárias. Junto uma perspectiva da reconstrução da fachada, ou seja da sua restituição à expressão primitiva.Na gerência municipal anterior à de V.Ex.cia tratei tudo isto com o então Presidente, infrutiferamente. Como faço parte do conselho cultural da Fundação Eça de Queiroz, facilmente este organismo participará também desta realização, muito embora não economicamente, pois não dispõe de verbas para o efeito. Em tudo o que diz respeito ao projecto poderei participar gratuitamente da sua elaboração juntamente com os serviços municipais. Como V.Ex.cia vê não se trata para já de construir nada, mas apenas de fazer o arranjo de uma simples fachada. Com o dossier constituído poríamos em marcha este projecto que só pode dignificar o município a que V. Ex.cia preside.Na expectativa de uma resposta de V.Ex.cia, sou, com os melhores cumprimentos.
Alfredo Campos Matos
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