quinta-feira, 20 de maio de 2010

Monges voltam 200 anos depois




HOJE NO JN

Duzentos anos depois, os monges regressam ao Mosteiro de Grijó, em Gaia. Professores, alunos e funcionários da Escola Básica Júlio Dinis vão recriar nos claustros deste monumento classificado a botica, o Scriptorium e a Sala do Capítulo.

Dois peregrinos ingleses que na noite da passada segunda-feira decidiram pernoitar no exterior do mosteiro, antes de retemperarem forças para prosseguirem viagem rumo a Santiago de Compostela, estavam atónitos.

Nem o enregelado banco de pedra onde se sentaram largos minutos nos claustros do imponente mosteiro os incomodava. O olhar do casal acompanhava fixamente a deslocação dos personagens de pequena estatura, vestidos de túnicas brancas e negras que, em silêncio, deambulavam sobre as pedras seculares, onde se encontram sepultados muitos antigos habitantes daquele espaço.

Afinal, tratava-se apenas de uma encenação que alunos e professores da Escola Básica Júlio Dinis levavam a efeito durante um ensaio para a recriação histórica que terá lugar no Mosteiro de Grijó amanhã e nos próximos dias 28 e 29. Mas o realismo da cena não deixava indiferentes aqueles espectadores de ocasião. "It's good, very good [é bom, muito bom] " comentava o casal de estrangeiros, quase em surdina.

Até alguns devaneios daqueles alunos transformados em monges que, de quando em vez, não resistiam a um sorriso bem expressivo e matreiro por entre as vestes que quase escondiam o rosto, eram perdoados. Mas não passavam em claro. "Meninos, estão a quebrar o principal voto dos monges, que era o silêncio", explicava, de imediato, um dos professores. Por se tratar de um ensaio, os monges até podiam cometer a "heresia" de calçar sapatilhas que eram quase imperceptíveis nas longas vestes. "Mas nem pensem em esquecerem-se das sandálias", atentava outro docente.

O casal de peregrinos não pôde ver nem sentir os sons, os aromas e saberes dos tempos em que os monges ocupavam o edifício secular, que foi fonte de saber e ensino de referência no século XII. Esses momentos estão reservados para o público presente nos dias da recriação. O cheiro intenso das ervas aromáticas vai invadir os claustros que recebem, ainda, os monges que copiam os livros no Scriptorium, os que assistem aos efémeros e orientam os trabalhos de uma botica que ostenta dezenas de frascos de vidro usados nestas antigas farmácias e os monges que ensaiam cantos gregorianos ou rezam.

Um cenário reconstituído ao pormenor e que é o resultado de três anos de investigação. "Todos os espaços recriados foram alvo de uma pesquisa histórica rigorosa" lembrou o professor de História João da Sousa, um dos mentores do projecto que percorreu vários mosteiros do país.

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