domingo, 11 de novembro de 2007

ESCRITORA GRANJOLA e filha de GRANJOLA



Aos 21 anos, Inês Botelho acaba de lançar o quarto livro: «Prelúdio» é o seu primeiro romance
Um prenúncio de luz
Nasceu em 1986 em Vila Nova de Gaia. Estudante de Biologia na Faculdade de Ciências do Porto, Inês Botelho começou a publicar a trilogia de literatura fantástica «O Ceptro de Aerzis» aos 17 anos. A colecção Jovens Talentos da Gailivro começou por acolher os seus três primeiros títulos: «A Filha dos Mundos» (2003), «A Senhora da Noite e das Brumas» (2004) e «A Rainha das Terras da Luz» (2005). Agora chegou às livrarias o primeiro romance de Inês: «Prelúdio», publicado pela mesma editora, mas agora na colecção Enredos. A jovem cientista das letras adianta: “Esta é uma história de histórias. Um livro de silêncios”. Filipa Leal
Depois de um ano intensamente dedicado a Ada, Duarte, Alice e Lídia (personagens centrais desta história), aqui surge o resultado de um trabalho da imaginação: “É um trabalho de actor: gosto de me transformar nas personagens e saber como reagiriam. Eu não estou aqui, nem as pessoas que conheço”. O cinema, o teatro, a representação e a literatura são as grandes vocações de Inês Botelho. E o piano. E a Biologia. Definitivamente, a Biologia. “De resto, sou um desastre nas artes manuais, no desenho... Em tempos pensei em ir para o curso de História, mas nunca pus a hipótese de ir para Literatura”, recorda. Ora, se alguém disse um dia “Vou entrar para a Literatura como se entrasse para o convento”, talvez esse seja o caso da jovem escritora, a quem hoje não sobra muito tempo para estudar – com tantos encontros com os seus leitores em escolas e bibliotecas.E o livro? E a literatura? Em «Prelúdio», a personagem central luta contra uma doença. A infância e a morte são, aliás, pontos cardeais nas histórias de Inês Botelho. No entanto, aos 21 anos, a escritora confessa: “Eu não tenho medo da morte. Há até um livro em que me debruço sobre o peso do que é ser-se imortal – imagino um povo imortal que só pede para morrer”. Nesta hipótese do cansaço da eternidade, acrescenta: “Se morresse agora, sei que tinha sido feliz, sem qualquer dúvida. Gosto do que já vivi”. Mas voltemos ao livro, “um livro de esperança”. Nele, revela, “o narrador é subjectivo e não está sempre do mesmo lado”. Ada narra a sua história na primeira pessoa, e depois temos Duarte (irmão mais velho), Lídia (a tia de ambos) e Alice (namorada de Duarte). A acção decorre durante um ano da vida destas personagens, e é sobretudo do cruzamento das suas histórias que se desenvolve: “Esta é uma história de histórias. É um livro de silêncios: não há espalhafatos, não há histerismos. É um livro mais contido”. Mais maduro, também, Inês? “Sim, mais maduro. Eu sou muito perfeccionista e por isso, quando termino é porque para mim está quase perfeito. Dois anos depois, quando volto a pegar-lhes, sei que há muita coisa que eu mudaria. Mas não vou mudar nada nos livros anteriores. Aos 15, 16 anos, não conseguia fazer melhor do que fiz”. Para Inês Botelho, os livros que publicou são, de certa forma, um espelho da sua evolução. “Sou bastante racional e científica. O que me interessa na Biologia é precisamente a evolução, e a genética”.Assim, «Prelúdio» apresenta-se-nos como um livro mais intimista. “Aqui estão quatro personagens com máscaras criadas para cada uma destas vidas. Todas elas têm questões com que se vão deparando, e a cada uma delas eu dou a solução”, acrescenta. “Numa situação de tanta instabilidade, elas criam novas máscaras e novas posturas”.Ritmo de linguagem, ritmo de criação“Gosto de coisas pausadas, de sensações, de imagens. Gosto de pensar. Julgo que em todos os livros há uma viagem, mas neste tive uma maior preocupação com a linguagem”. Em «Prelúdio», há um cuidado maior com a melodia e o ritmo da frase, com “a sensação que ela imprime”. “Gosto de escrever em todos os géneros, mas não acho que seja poeta. No entanto, há neste livro uma prosa poetizada. Mais jogo com a linguagem, menos medo de ousar. Usei a pontuação de forma a imprimir a cada frase o ritmo que eu queria que ela tivesse”.Desde muito cedo que Inês se dedicava à literatura fantástica. “Tinha deste género um conhecimento empírico. Depois fui estudando, lendo muitos livros e alguns ensaios”, recorda. Aos nove anos, começou a interessar-se pela mitologia, pelo curioso lugar dos símbolos. “Acabei por, mais tarde, reinterpretar esses mitos nos meus livros. Os quatro elementos, por exemplo, atravessam a trilogia”. Neste campo das letras, tem como principais referências nomes como Marian Zimmer Bradley, J. R. R. Tolkien e Juliet Marilier, nunca esquecendo Edgar Allan Poe. “Mas leio de tudo! A minha mãe sempre leu muito e foi-me passando este vício. Gosto muito de Fernando Pessoa e de Natália Correia...”
Neste momento, descobre a prosa de Ruben A.
De Agosto em Agosto, porque em tempo de aulas não tem tempo para escrever e investigar, Inês Botelho promete não abandonar os seus leitores.
Como diria Duarte, a meio deste «Prelúdio»,- Porque sei que não é possível.
artigo de Filipa Leal
em O Primeiro de Janeiro

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